Roteiro
Sempre que escrevemos, temos um propósito em mente. Pode ser que ele não seja evidente ou nem tenhamos consciência disso; mas, se pararmos para pensar, cada texto tem uma forma para atender a uma determinada necessidade que outro não atende.
Por exemplo: um bilhete é curto e informal para ser entendido facilmente pela pessoa a quem nos dirigimos. Uma monografia de faculdade é bem detalhada e técnica para que a teoria explícita possa ser usada em pesquisas. Uma reportagem é objetiva e imparcial para que qualquer um possa tirar sua opinião a respeito de uma situação. Uma receita é escrita em tópicos para que se possa seguir etapas sem errar. E um roteiro... é, e um roteiro?
O roteiro é o guia para todos os envolvidos em uma dramatização, seja uma peça de teatro, um capítulo de novela, uma cena de filme, um bloco de programa de televisão, enfim: é um texto que serve para ser encenado. Quando um roteirista escreve um roteiro, ele deve ter noção de que ele passará pelas mãos dos atores, diretores e técnicos, e que, por isso, deverá estar claro para todas as partes executarem seu trabalho sem dúvidas.
É fundamental estar tudo realmente uniformizado: se cada hora as coisas forem representadas de um jeito diferente, todo mundo fica confuso e a gravação não sai. E se nada sair... bem, daí o roteiro perde a sua função de guia, e aí era melhor nem ter sido escrito, para começar, né?
Calma, não precisa se preocupar! As gravações não serão interrompidas. Felizmente existe uma convenção para a escrita desse tipo de texto (porque, imaginem os atores se descabelando para ter de entender cada vez um roteiro diferente!), e é ela que vem a seguir. Luzes, câmera, ação!
a) Cabeçalho: é a informação básica para os técnicos, que precisam saber onde (interior [INT] ou exterior [EXT] ao estúdio), precisamente onde (nome do lugar), e quando (dia ou noite) tudo está se passando. Tem essa cara, por exemplo:
INT. - CASA DO SIMPSONS – DIA
Um novo cabeçalho é necessário cada vez que muda o lugar, e/ou muda o tempo.
b) Ação: é a descrição dos personagens: o que eles estão vestindo, o que estão fazendo, o que estão expressando com o corpo, com que estão interagindo... é tudo o que os espectadores vão conseguir e precisar capturar visualmente.
A ação é escrita no canto esquerdo da página, em texto justificado. Alguns elementos seus costumam ser escritos em maiúsculas:
PERSONAGENS com falas, na primeira vez em que aparecem no roteiro, ou na primeira vez em que aparecem em cada cena.
As palavras ENTRA e SAI (de cena).
SONS que precisam ser artificialmente criados ou enfatizados pela direção, como um telefone tocando, tiros, vento soprando, etc... (os sons feitos pelos próprios personagens, como pratos quebrando ou portas batendo, não precisam ser destacados)
Objetos importantes para a cena.
Por exemplo:
INT. - CASA DOS SIMPSONS – DIA
HOMER, sentado no sofá, vê televisão. Assusta-se com SOM DE TROVÃO. Pega o CONTROLE REMOTO e muda de canal. MARGE ENTRA.
c) Personagens: são aqueles que executam as ações. Seus nomes devem aparecer centralizados na página, na linha acima de suas falas. Por exemplo:
MARGE
Ô, Homer, quer parar de preguiça e me ajudar a lavar a louça?
d) Diálogo: são as falas das personagens. Aparecem centralizadas na página, abaixo do nome do personagem que a executa.
e) Instruções para os atores: Escritas em parênteses numa linha entre o nome da personagem e o diálogo. Devem ser usadas somente quando uma ação específica é essencial para a cena. Por exemplo:
MARGE
Ô, Homer, quer parar de preguiça e me ajudar a lavar a louça?
HOMER
(se coçando)
Já que você perguntou... não.
No final, nosso roteiro fica com o seguinte jeito:
1. INT. - CASA DOS SMPSONS – DIA
HOMER, sentado no sofá, vê televisão. Assusta-se com SOM DE TROVÃO. Pega o CONTROLE REMOTO e muda de canal. MARGE ENTRA.
MARGE
Ô, Homer, quer parar de preguiça e me ajudar a lavar a louça?
HOMER
(se coçando)
Já que você perguntou... não.
Viram só? Um roteiro abarca tudo o que se passa em todas as cenas, com todos os personagens. Não é preciso nenhum emoticon para mostrar a expressão nervosa da Marge ou pose desleixada do Homer. Uma cena descrita e detalhada é mais rica e não deixa dúvidas para ninguém que tiver que interpretá-la, dirigi-la ou montá-la.
E se você não tem e nunca teve a intenção de que seu texto fosse um dia ser usado para qualquer um desses propósitos, a minha dica só pode ser uma: volte para a prosa de ficção, porque essa definitivamente é a melhor forma para seu texto.
Espero ter ajudado os futuros roteiristas! Bons textos para todos!
Fonte: Nyah! FanFiction