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Elementos Fundamentais de uma História
Características básicas de formação de uma narrativa
Por Sandro Massarani
Para um melhor entendimento, não deixe de ler depois o básico da Estrutura da História e observar a Ficha de uma História.
Logicamente, seria muita ingenuidade acreditarmos que há regras fixas e imutáveis para a criação de uma boa história. Por mais que diversos estudiosos tenham estipulado várias teorias e guias práticos, cada indivíduo tem preferências e prioridades distintas. Porém, isso não impede o estabelecimento de alguns parâmetros que busquem tornar a narrativa eficiente, de forma que se sustente sozinha, e mesmo que não seja de total agrado, seja reconhecida como uma obra bem feita.
Busco aqui neste espaço expor de maneira superficial, caso contrário precisaria de um livro, os elementos cruciais que merecem maior atenção na criação de uma narrativa. Mostrarei aqui apenas o básico, o mínimo necessário, o ponto de partida.
Podemos resumir uma história em apenas uma palavra:
BUSCA.
Toda história possui um ou mais personagens que tem como objetivo buscar algo. É a essência da narrativa, e não somente na literatura, mas também no cinema, nos quadrinhos, no teatro, e até nos videogames.
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James Scott Bell afirma que para montarmos um bom enredo precisamos desenvolver quatro elementos:
Lead - Personagem Principal.
Objective - Objetivo do personagem.
Conflict - Conflitos e obstáculos que o personagem enfrenta. Prefiro chamar de oposição.
Knockout Ending - Um final impactante para a história. Acredito que não deva ser somente impactante, mas também coerente. Prefiro a idéia de final memorável, pois nem sempre um final de qualidade precisa ser impactante.
Juntando a primeira letra de cada elemento, formamos a palavra LOCK, que é o nome utilizado por Bell.
Ao utilizarmos a idéia inicial central da busca com o sistema LOCK, podemos obter algo ainda melhor como definição básica de uma história:
Alguém deseja alcançar um objetivo mas deve vencer uma oposição para consegui-lo.
Acredito que podemos resumir praticamente todas as histórias com a frase acima. James Hudnall vai além e simplesmente nos fornece a seguinte fórmula:
A>B<C
"A" quer "C" mas "B" está no caminho. A é o personagem principal. B é o conflito/oposição. C é o objetivo (amor de alguém, um anel, destruir algo, etc.).
Portanto, toda história tem um enredo (Plot). E esse enredo é sobre um personagem principal, que tem um objetivo, algo crucial para o seu bem-estar. A maior parte do enredo se dá nos conflitos com a oposição, uma série de batalhas para a conquista do objetivo. Se a história não respeita esse conceito básico, vai ser muito difícil que ela agrade o público, a não ser que seja vontade do autor buscar algo revolucionário, o que está cada vez mais difícil na época pós-moderna dos dias atuais.
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Analisarei abaixo cada elemento fundamental no processo de criação de uma história.
1. Personagem Principal
A história pode ter diversos personagens importantes, mas a não ser que seja um Tolkien ou um Tarantino, uma boa história estabelece claramente um personagem principal, que será o agente primário da narrativa.
Tanto o objetivo quanto o conflito da história devem girar em torno desse personagem. Não cabe nesse artigo discursar sobre a criação de personagens (para um aprofundamento sobre a criação de personagens clique aqui), mas é fundamental que o personagem principal provoque empatia na audiência, ou seja, que os leitores/espectadores torçam e se importem com ele. Vejam bem que empatia não é o mesmo que simpatia. Podemos ter um personagem simpático que não desperte emoções e cujo destino seja para a audiência indiferente.
Como cada personagem responde a cada conflito é o que definirá ele para a audiência. Se houver muita discórdia em relação às escolhas que um personagem faz, haverá opiniões negativas em relação a esse personagem. Se houver maior identificação com as escolhas de determinado personagem, ele ganhará o apoio da audiência e o autor terá maior controle da situação.
Vejam bem que isso não significa que os personagens tenham que fazer ações previsíveis, e sim que sejam ações coerentes com suas personalidades. Um determinado espectador, por exemplo, poderia nunca se sacrificar por alguém desconhecido, mas reconhece o valor desta ação e se identifica com o personagem que a realiza.
Todos nós somos definidos pelas escolhas que fazemos. Seja de roupas, comida, programas de televisão, caráter. E os outros formam opiniões boas ou más sobre nós baseados nessas escolhas. Ocorre o mesmo com os personagens criados em uma história.
2. Objetivo
O que o personagem principal busca? Um objeto? Amor? Paz? Emprego? Respeito próprio? Definição da sua sexualidade?
Reparem que o objetivo não precisa ser algum objeto físico. Geralmente em obras mais complexas (chamadas por mim de "artísticas"), o objetivo é a busca de algo no interior desse personagem. Já em obras mais comerciais é típico um objetivo mais tangível e visível para a audiência.
É fundamental que o objetivo do personagem seja de extrema importância para sua vida, caso contrário a história não se sustentará. Se não for algo crucial para sua existência e felicidade, não valerá a pena lutar por ele. E se o personagem não luta pelo objetivo, não temos história.
3. Oposição
Aqui a velha máxima se aplica. O herói é tão bom quanto seu vilão. Então uma boa obra precisa ter intensos conflitos e uma oposição de valor. O personagem principal não deve atingir seu objetivo facilmente, e algumas vezes ele pode nem isso conseguir.
A oposição não precisa vir de um único vilão humano. Pode ser a natureza (como faz Stephen King), ou pode simplesmente ser um pesado conflito interior (assumir ou não assumir a homossexualidade, aceitar ou não a perda de um filho, etc.). A oposição também pode ser um grupo, como o governo, ou o exército. Se escolher um grupo como oposição, faça com que esse grupo seja representado por um personagem, para dar maior foco a trama.
O mais importante é que o personagem tenha que se esforçar ao máximo para vencer os obstáculos, e que esses obstáculos fiquem cada vez mais intensos ao longo da história (princípio da Ação Crescente ou Rising Action). Na verdade, é muito comum histórias onde o personagem principal esteja praticamente derrotado até a reviravolta final, quando vence buscando aquela última energia.
Assim como para o personagem o objetivo a ser alcançado é fundamental para sua vida, o mesmo ocorre com a oposição. Os conflitos devem ser lógicos e com motivações racionais.
4. Final Memorável
O final da história é praticamente a última sensação que a audiência carrega da obra. Portanto, um bom final pode às vezes compensar uma história fraca, e um final ruim pode destruir uma bem construída narrativa.
Um final memorável não significa um final absurdo nem irreal. Significa simplesmente um final que agrade e ao mesmo tempo surpreenda de maneira satisfatória a audiência. Aliás, nem todos os finais memoráveis são impactantes. Alguns autores acabam inventando finais exagerados com a preocupação de evitar a sensação de repetição. Mas a repetição sempre vai acontecer, já que existem milhares de obras já feitas. O ideal é modificar um pouco o cliché, de maneira que seja criado um final instigante e ao mesmo tempo coerente. Às vezes é melhor a obra ter um final comum do que uma invenção sem coerência, o que é falta de respeito com o espectador/leitor.
Um bom final também deve responder todas as questões levantadas ao longo da trama, a não ser que seja vontade do autor manter a dúvida, o que requer muita habilidade, já que é difícil saber qual dúvida ao não ser respondida contribui para a melhor qualidade da obra.
5. Tema (Moral)
Ao chegarmos ao final da obra, o leitor/espectador espera obter alguma mensagem mais profunda, que represente todo o contexto do que ele acabou de presenciar. Toda história tem uma moral ou tema por trás de si, mas o escritor deve tomar muito cuidado ao estabelecer a forma de transmissão dessa mensagem para a audiência.
Vamos supor que a história tenha como base a ascensão de um personagem pobre ao poder, como visto inúmeras vezes. Ao querer o poder a qualquer custo, esse personagem acaba ficando desvirtuado, seu caráter alterado, e no fim das contas, ao obter o poder, ele acaba isolado e desprezado. O tema é bem claro: o poder corrompe. Porém, o escritor não deve ficar todo o tempo impondo esse tema, essa moral, para a audiência. O tema deve se desenrolar de maneira gradativa e delicada. Não se deve colocar um personagem gritando o tempo todo: "Viu? O poder corrompe." Isso é forçar o tema pela garganta e boa vontade de quem está apreciando a história.
Busque sempre qual será a Moral de sua narrativa. O que você quer passar para a audiência quando ela der aquele último suspiro após o fim de um filme ou livro.
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Exercícios
Pegue uma obra, tanto faz a origem (cinema, quadrinhos, etc.), e identifique nela:
- Personagem Principal
- Personagens Secundários
- Objetivo do Personagem Principal
- Objetivo de cada Personagem Secundário
- Oposição ao Personagem Principal
- Qual o seu Tema (Moral)?
Responda a seguinte pergunta:
- O final foi memorável? Agradou-me e ao mesmo tempo me surpreendeu? Foi coerente com o restante da história? Respondeu a todas as perguntas?
Conclusão
Estes são os elementos fundamentais presentes na base de construção de uma história. Com certeza é necessário o aprofundamento desses tópicos, mas já com esse limitado conhecimento torna-se possível uma análise mais científica por parte do estudioso e um maior entendimento do que significa criar e julgar uma narrativa consistente.